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sábado, 9 de junho de 2007

Os jovens da paróquia de Cambuí (MG), onde passei a Semana Santa, encenaram a Paixão de Jesus Cristo. Lá no fundo do meu coração eu, silenciosamente, fiz uma comparação inevitável com um teatro semelhante que eu “produzi” quando era seminarista canossiano, em meados da década de oitenta. Modéstia à parte, a minha produção foi bem melhor... Lembro que um mês antes do teatro eu fui com o padre Jorginho (um italiano de metro e meio, ardido como uma pimenta brava) fomos ao centro de Ribeirão Preto procurar doações para o tal teatro. Tempos difíceis aqueles... Não conseguimos muita coisa nas casas de tecidos a não ser uns poucos retalhos, muito pequenos, de tecido estampado e alguns pedaços de napa. Durante semanas eu fiquei bolando umas fantasias pro teatro e acho que o resultado foi muito bom. As roupas dos soldados que tínhamos à disposição (emprestadas de uma paróquia vizinha, em Dumont/SP) eram feias. Os soldados do teatro vestiriam uma peça que lembrava uma blusa de cetim e uma mini saia listrada (francamente, parecia o bloco da Dona Dorotéia em Santos, que eu nem sei se ainda existe). Depois de um pouco de pesquisa nas enciclopédias e uma boa dose de imaginação eu consegui montar os capacetes, recriei a roupa dos soldados com sacos de estopa, as coroas, os barretes, o cenário, até a trilha sonora ( Adágio de Albinoni, Ária da 4ª corda, Marcha Fúnebre, Bachianas de Villa Lobos) . Foi uma superprodução. Até a sucursal da Rede Globo apareceu por lá. No final da peça, o público da igreja, que estava superlotada, aplaudiu muito os atores (seminaristas e jovens da paróquia) que eram cerca de trinta e eu fiquei maravilhado com o que eu tinha acabado de fazer sem dinheiro nenhum... E no fim do espetáculo quase ninguém veio me cumprimentar. Lembraram do Cristo, de Judas, da Madalena... mas ninguém sequer supôs que eu havia perdido muitas horas de sono colando papéis coloridos, selecionando músicas em LPs de músicas classicas, pedindo para senhoras a caridade de costurar gratuitamente algumas peças, pintando cenários debaixo do sol estorricante de Ribeirão Preto. Deveria ficar magoado, mas eu não conseguia... Estava feliz demais para isso. Foi então que o padre Giorgio Valente veio me cumprimentar (ele havia representado Pilatos na peça) e me disse algumas palavras com tanta ternura que eu desabei. Talvez por auto-comiseração, talvez por estresse acumulado, talvez por uma alegria que jamais havia experimentado de me sentir capaz, competente, produtivo...

1 comentários:

Unknown disse...

Caro Frei Marcos, que saudade. A tanto tempo não nos vemos. Sobre o episódio acima, bem, eu representei Jesus Cristo mesmo não sendo o personagem que voce inicialmente queria. Mas acho que me saí bem não achas? Mas devo dizer que foi a melhor peça que já representei. amigos leitores, o Frei foi modesto, ele se sacrificou muito para a peça sair. O mérito foi mesmo dele pois os atores eram totalmente amadores como eu. Voce é especial Frei Marcos. Aproveite para contar nossa participação em um festival no teatro de Arena de Ribeirão Preto onde voce compos aquela belíssima musica. Um forte abraço de seu sempre amigo Luiz Gaudencio Schmitz.

18 de fevereiro de 2009 às 14:17