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Testemunho Vocacional -

Sinto-me constrangido em dar meu testemunho vocacional. Toda vez acontece isso... É como se pedissem que eu mostre um desenho que ainda não foi concluído. Embora as linhas mestras traçadas inicialmente sejam capazes de prenunciar o bom (ou mau) êxito da obra, nada melhor que a arte final para revelar todo o esplendor do trabalho artístico. Mas a grande verdade é que sinto minha vocação como algo inacabado: um esboço bonito, mas ainda sim um esboço e não um desenho completo. Como falar de algo que ainda está em processo de conclusão? Não seria temerário falar de algo nessas condições?


Todas as vocações me parecem um grandioso mistério. E, no meu caso, esse mistério parece multiplicar-se.


Nunca entendi por que, afinal de contas, Deus resolveu buscar-me em casa. Se já era suficientemente complicado explicar minha conversão à fé católica para meus familiares (budistas), imagine a batalha interna que aconteceu dentro de mim que se acenderam as primeiras luzes do sonho de ser religioso. Foi muito difícil contar para minha mãe que eu estava decidido a ingressar no seminário. Vi tanta decepção no olhar cansado dela. Sei que eu era sua esperança, sei que frustrei seus últimos sonhos e que minha família precisava muito de mim. Minha ausência fez a diferença em casa. Tantas vezes pedi perdão em minhas orações por não ter podido realizar aquilo que esperava de mim.


Mas senti uma força irresistível me empurrando para a Vida Religiosa. Fiquei absolutamente fascinado com a possibilidade de viver o ideal da Vida Fraterna. Viver em comunidade nem sempre é fácil. Houve momentos em que o peso dos conflitos e das tensões pareceu-me cruel e insuportável. Acho que foi Deus que, vendo a minha extrema fraqueza, teve pena e me fortaleceu quando deparei com as cruzes. Mas eu seria ingrato se decidisse que tudo foi difícil. Pelo contrário, sinto-me “escandalosamente” privilegiado por Deus: pelos amigos que ele me deu, pelos dons que recebi, pelos inúmeros acontecimentos que revelam a sua graça... e porque foi aqui no Carmelo que me descobrir como gente, como filho amado (apesar dos meus limites) e aqui pude provar um pouco do sabor do céu, a partir da experiência de amizade, solidariedade, amor, trabalho, cansaço, alegria, tudo o que é sinal da misericórdia divina.


Frei Marcos Matsubara, OCD


Fonte: Blog da Pastoral Vocacional Carmelitana
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