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sábado, 9 de junho de 2007

No segundo semestre do ano passado fui "intimado" pelo Afonso a ajudar uma paroquiana que estava a traduzir um livro do francês para o português. Imagine, justo eu, que não saí do primeiro livro do Mauger e que cantava "Alors enfants de la Patrie" em vez de "Allons enfants..." Alguém, certa vez, quase teve um enfarto de tanto rir da minha cara por causa desta gafe...
Resumindo não sei francês o suficiente para (sequer) pedir um croissant numa daquelas famigeradas boulangeries da Pátria de Santa Teresinha. Mas, como um bom religioso carmelita descalço (cof!cof!), resolvi topar a parada.
O livro a ser traduzido era nada mais, nada menos do que uma obra de Jean-Yves Leloup, um famoso psicólogo/filósofo/teólogo/escritor europeu. Suponho que algum dos meus queridos amigos conheçam a figura ou já tenham lido alguma coisa dele.
Quando fui convidado para auxiliar a tradutora (não vou dizer o nome dela porque alguns dos meus assíduos leitores de anexos são desta paróquia e certamente a conhecem - risos) não fazia a mínima idéia do que significava isso. Eu achava que era simplesmente uma tradução que objetivava alguma aula de teologia espiritual, alguma palestra em algum Seminário, encomendado por um bispo piedoso, sei lá o que pensava... Só não pensava que fosse realmente ser editado, impresso e divulgado no MASP!!!!
E nem fazia idéia de que o próprio autor viria para o lançamento deste LUXUOSO livro "en papier couché" ilustrações generosas, material super rico, publicado pela não menos respeitada UNESP.
Pois é... Quando eu recebi aquele livro lindíssimo - deve custar uma pequena fortuna - com uma dedicatória do Jean-Yves fiquei deslumbrado, mas quando li o meu nome (sim, meus caros, my own name!!!) impresso no livro, aí foi demais para a minha humildade. Eu me senti o próprio Fernando Pessoa!!!! Tudo bem que a minha colaboração foi mínima . Talvez tenha interferido em uma dúzia de expressões. Nada que uma boa pesquisa na internet não resolvesse para a tradutora , mas mesmo assim, mesmo sabendo que não merecia tudo aquilo, fiquei imortalizado na obra de Jean-Yves Leloup na sua edição brasileira de "O Ícone, uma escola do olhar". Fiquei tão entusiasmado com esta experiência de tradução que tive vontade de traduzir a Enciclopédia Barsa pro Javanês! Talvez seja muito... Melhor começar pela lista telefônica. Ainda é muito né? Tá bom, tá bom... Começarei traduzindo as frases dos cartões postais das Edições Paulinas.
Ai, ai... Como é duro ser pobre! A gente se contenta com tão pouca coisa, não é?
O Afonso adora me tripudiar... Ontem , quando voltei com o livro nas mãos (tive a mesma sensação de quando voltei para casa com uma medalha de honra ao mérito no peito, ao fim do primeiro ano do Grupo Escolar - 1969 - tinha sete anos... Não sabia exatamente o que era aquilo, mas estava na cara que era bonito. Voltei para casa correndo para mostrar prá minha mãe. Ela ficou mais feliz do que eu e fomos correndo prá casa da minha tia, que morava ao lado, e em seguida fomos os três correndo para mostrar pro meu tio - que era uma espécie de Patriarca da família. Ele olhou para mim e disse alguma coisa como Parabéns. Nada de abraços, nada de grandes elogios, apenas um conciso, direto e econômico "Parabéns", bem ao modo japonês...)
Mas, como eu dizia (meu Deus, como eu me perco em meio aos parêntesis com que interrompo as idéias ), o Afonso estava folheando as páginas do livro recém publicado e eu, é claro, ficava apontando o meu nome ("Tá aqui ó! Lê aqui ó!" Tá vendo? Marcos Hid...). E ele disse: "Mas isso quem escreveu foi a tradutora e não o autor do Livro!" E eu: "Seu desmancha-prazeres! Tinha que achar um defeito, né?" E eu comentava que não sabia que a origem do nome Verônica vem de "Vera Ícona" = verdadeira imagem . "Sério? Você não sabia? Mas isso é uma informação tão elementar?" disse ele "Me admiro muito com você, que estudou Artes Plásticas na Escola Guignard, não saber esta informação tão básica!" E então apelei "Não sabia isso. Mas sei de muitas coisas que você não sabe e nunca vai saber!!!!" risos
Das duas uma: ou a gente está rindo juntos ou está brigando... Ontem à noite fomos escondidos à sala do provincial para imprimir umas cartas sigilosas. Na hora de imprimir faltaram folhas e raptamos algumas folhas de papel A4 da máquina de xerox do Frei Antônio. Aquela cena lembrava dois meninos roubando goiaba no quintal do vizinho. Eu comecei a rir e disse: "Afonso, eu não acredito no que estamos fazendo... Eu tenho quarenta e quatro anos e você quarenta e cinco!!! E por que é que estou me sentindo como um moleque de nove que está fazendo uma traquinagem??? Falando baixo prá ninguém nos ouvir, com medo de ser pego no flagra com meia dúzia de folhas na mão? Isso é ridículo!!! E o pior é que estas folhas são tuas! Você é o Provincial !" E ficamos rindo bem baixinho prá ninguém nos ouvir... Como é bom ter um amigo assim.

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